A luta e a lição
Autor: Carlos Heitor Cony
Um brasileiro de 38
anos, Vítor Negrete, morreu no Tibete após escalar pela segunda vez o ponto
culminante do planeta, o monte Everest. Da primeira, usou o reforço de um
cilindro de oxigênio para suportar a altura. Na segunda (e última), dispensou o
cilindro, devido ao seu estado geral, que era considerado ótimo.
As façanhas dele me
emocionaram, a bem sucedida e a malograda. Aqui do meu canto, temendo e
tremendo toda a vez que viajo no bondinho do Pão de Açúcar, fico meditando
sobre os motivos que levam alguns heróis a se superarem. Vitor já havia vencido
o cume mais alto do mundo. Quis provar mais, fazendo a escalada sem a ajuda do
oxigênio suplementar. O que leva um ser humano bem sucedido a vencer desafios
assim?
Ora, dirão os
entendidos, é assim que caminha a humanidade. Se cada um repetisse meu exemplo,
ficando solidamente instalado no chão, sem tentar a aventura, ainda estaríamos
nas cavernas, lascando o fogo com pedras, comendo animais crus e puxando nossas
mulheres pelos cabelos, como os trogloditas –se é que os trogloditas faziam
isso. Somos o que somos hoje devido a heróis que trocam a vida pelo risco. Bem
verdade que escalar montanhas, em si, não traz nada de prático ao resto da
humanidade que prefere ficar na cômoda planície da segurança.
Mas o que há de
louvável (e lamentável) na aventura de Vítor Negrete é a aspiração de ir mais
longe, de superar marcas, de ir mais alto, desafiando os riscos. Não sei até
que ponto ele foi temerário ao recusar o oxigênio suplementar. Mas seu exemplo
–e seu sacrifício- é uma lição de luta, mesmo sendo uma luta perdida.
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