24 de maio de 2012

Sempre bom Fernando Sabino


Na Escuridão Miserável

Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Senti que alguém me observava enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar através do vidro da janela junto ao meio-fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquítica, um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:
- O que foi, minha filha? - perguntei, naturalmente, pensando tratar-se de esmola.
- Nada não senhor - respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.
- O que é que você está me olhando aí?
- Nada não senhor - repetiu. - Tou esperando o ônibus...
Onde é que você mora?
- Na Praia do Pinto.
- Vou para aquele lado. Quer uma carona?
Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:
- Entra aí, que eu te levo.
Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, e enquanto o carro ganhava velocidade ia olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:
- Como é o seu nome?
- Teresa.
- Quantos anos você tem, Teresa?
- Dez.
- E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?
- A casa da minha patroa é ali.
- Patroa? Que patroa?
Pela sua resposta, pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava roupa, varria a casa, servia a mesa. Entrava às sete da manhã, saía às oito da noite.
Hoje saí mais cedo. Foi 'jantarado'.
- Você já jantou?
Não. Eu almocei.
- Você não almoça todo dia?
- Quando tem comida pra levar de casa eu almoço: mamãe faz um embrulho de comida pra mim.
- E quando não tem?
- Quando não tem, não tem - e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos - um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês.
- Mas não te dão comida lá? - perguntei, revoltado.
- Quando eu peço eles dão. Mas descontam no ordenado. Mamãe disse pra eu não pedir.
- E quanto é que você ganha?
Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro! Ela mencionara uma importância ridícula, uma ninharia, não mais que alguns trocados. Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.
- Como é que você foi parar na casa dessa... foi parar nessa casa? - perguntei ainda, enquanto o carro, ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela disparou a falar:
- Eu estava na feira com mamãe e então a madame pediu para eu carregar as compras. E aí no outro dia pediu a mamãe pra eu trabalhar na casa dela, então mamãe deixou porque mamãe não pode deixar os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados. Pode parar que é aqui moço, obrigado.
Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto...
 (Fernando Sabino)

23 de maio de 2012

Dicas para uma boa dissertação.

Para se fazer uma boa dissertação é muito importante:


- Ler o tema com muita atenção, para entender o que se é pedido;
- Ter conhecimento do tema que irá desenvolver;
- Demarcar o tema, ou seja, tornar um tema aberto em um tema fechado, por exemplo, política é um tema aberto, já partido político é um tema fechado;
- Pensar sobre o tema e sobre o seu ponto de vista encima dele;
- Fazer um rascunho antes de começar a escrever o texto original;
- Evitar expressões como: “na minha opinião”, “eu penso que”, “eu acho que”, e procurar escrever o texto sempre em 3º pessoa do singular ou do plural, para que o texto fique mais impessoal;
- Manter o máximo de clareza no que está escrevendo;
- Antes de começar o texto, escolha um título, pois com isso ficará mais fácil de desenvolver uma dissertação, mas caso tenha dificuldade em  elaborar seu título, faça o texto e no parágrafo conclusivo sintetize em uma frase de no máximo três palavras, assim terás seu título.

22 de maio de 2012

Busca da identidade.


        
A sociedade brasileira continua escravizada a valores externos considerando o que mais a caracteriza, falta de origem, identidade ou traços físicos próprios.


Elementos, estes, presentes na cosmopolitização adquirida com os diversos imigrantes que aqui vieram em busca de novas riquezas e explorações. Vale lembrar, também, que, quando do seu povoamento, o Brasil recebeu uma leva de indivíduos portugueses de má índole que reflete hoje no seu modo marginal, essa sua primeira característica.

Por outro lado, essa mistura de raças e etnias faz do povo brasileiro individualidades variadas e belezas diversas, podendo assim, encontrar traços de todos os cantos do mundo.

Estes fatores estão diretamente ligados à história, em que ao deixar de ser colônia portuguesa, foi tomado pela burguesia seguido de uma ditadura militar acompanhado de uma aculturação norte-americana e culminando hoje, após o fim do regime sensor, a um imperialismo midiático ditado por uma poderosa rede de comunicação.

Portanto é perceptível que nossa sociedade só será forte o dia em que a consciência coletiva esteja voltada para a busca e conquista de um perfil brasileiro e assim se tornar um povo pensante e consequentemente, donos de suas próprias vontades.


17 de maio de 2012

O mundo do espelho de Narciso é um desafio ao homo sapiens?


Escravidão mental

A busca excessiva da beleza leva o homem moderno à um culto ao próprio corpo tornando-o um escravo do espelho. Esse cultuar imposto por uma mídia impera sobre o fraco, confirmando a cobiçada juventude eterna dos primórdios da humanidade, por outro lado, padronizar essa beleza quebra o que temos de mais precioso e o que nos faz especiais que é a individualidade.
    
O encanto humano que faz nos completarmos está nesse individualismo, pois desde sempre, o homem desenvolve dons que somado aos de outros desencadeia e justifica a necessidade de viver em sociedade e a negação de forma única de embelezamento do corpo.

Esse padrão ditado por uma mídia ou por uma minoria não pode se tornar a racionalização humana numa escravidão que destrói a paixão de Narciso que brota naturalmente.

Contudo, a história mostra que essa obsessão pela beleza vem da antiguidade e que , em muitas vezes, tivemos desencadear catatrófico, vale lembrar o Holocausto que gerou experiências aberracionais.

Sendo assim, a sociedade mundial precisa caminhar para uma evolução intelectual em que todos respeitem e admitem a diferença e não escravizem as pessoas num pequeno mundo mental impossível.


11 de maio de 2012

Segunda crônica.


Crônica do sobá


       
Ao passar por um conhecido nos corredores movimentados do shopping local, observo sua inquietação ao me perceber: “cumprimentar? Não cumprimentar?” seus olhos denunciam suas inquietações.

O que há por detrás dessa dificuldade em dizer “oi”, “olá” ou um simples aceno com a cabeça? Quanta inquietação!

Olhar desviado. Uma busca cega em se esconder: ”Quero ser invisível!”, seria o que ouviria se tivesse o dom de ler pensamentos. Talvez fosse necessário uma análise psíquica coletiva anexada aos programas municipais de saúde. Um sorriso brota em minh’alma, acompanhada de uma tristeza preocupante, junto à uma vontade de mudança e incapacidade.

Passos às vezes diminuídos, às vezes apressados. De repente a mesma aflição me domina: será que devo ir até ele e dizer uma palavra de conforto? E se eu for repreendido ou ignorado? Um pavor desponta meio tímido, mas perceptível.

Entrar numa loja? Que tal o banheiro!? Que nada! Decido então seguir em frente normalmente. Ah! Quer saber? Princípios devem ser levados para a vida inteira. Não vou deixar com que me torne mais um.

Dirijo-me até o referido cidadão, sua feição suaviza e um leve sorriso brota dos seus lábios e uma frase que diz: - Professor Wagner, que bom vê-lo por aqui! Pensei que você não havia me reconhecido.

Ufa! Que alívio! Realmente a vida é feita de atitudes.

8 de maio de 2012



O suor e a lágrima
Carlos Heitor Cony

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

O texto acima foi publicado no jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001, e faz parte do livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha”, Publifolhas – São Paulo, 2001, pág. 319, organização de Arthur Nestrovski.

Uma boa dissertação



Livros desprezados 

Grave problema presente no Brasil é o baixo nível cultural da população devido à falta de leitura de boa qualidade. Segundo o Pisa (Programa internacional de avaliação de alunos), que verifica a capacidade de leitura do jovem, dentre os 32 países envolvidos na pesquisa de 2001, o nosso ficou com a última colocação. 

Um dos fatores que provocam a falta de domínio da leitura na avaliação brasileira é a escassez de livrarias: apenas uma para cada 84,4 mil habitantes. Porém, essa não é a única razão: o brasileiro prefere ler futilidades que pouco ou nada acrescentam ao seu intelecto a se dedicar aos grandes nomes da literatura. 

Os políticos tentam suavizar a situação do semi-analfabetismo gerada pela falta de leitura com o discurso de que é perfeitamente normal que algumas pessoas alcancem o final do ensino médio sem saber expressar suas idéias por meio da escrita. Obviamente, é “perfeitamente norma”, visto que o sistema de repetência foi indevidamente abolido nas escolas públicas. 

É imprescindível que a leitura no Brasil seja estimulada desde a infância e que o sistema de ensino sofra uma revisão. Nossa nação não pode aspirar ao desenvolvimento tendo tão deficiente capital humano. 


( Alexandre Budu)

2 de maio de 2012

"Viver em rede no século XXI: Os limites entre o público e o privado"


Socialização privativa

As redes sociais foram criadas com o objetivo de trocar informações e ou interação e, também, relacionar-se, mas em alguns casos se tornaram fúteis e em outros publicidades para empresas que as utilizam como termômetros medidores de aceitação de produtos ou ideias, em contrapartida, o excesso prejudica as relações humanas, além de banalizá-las, tornando-se um diário do que e como fazer.
        
Embora seja um canal positivo de compartilhamento, os internautas, na inocência de achar que as informações ali contidas são restritas, postam passo a passo suas ações rotineiras sem se dar conta que podem assim, tornarem alvos fáceis de marginais, como exemplos vinculados na mídia em geral.

Em virtude desses excessos, empresas utilizam do poder, facilmente observado e publicam campanhas publicitárias com o intuito de medir o grau de aceitação desse ou daquele produto ou ideia, certos do retorto positivo e lucrativo.

Por outro lado, é de suma importância notar que a sociedade perde a capacidade real de se relacionar e paga um preço caro com a solidão provocada pelo virtual.

Sendo assim, apesar de ser uma ferramenta importante de união no compartilhamento da satisfação e insatisfação em questões sociais, não podemos perder o limite entre o privativo e a socialização para não nos tornarmos uma sociedade de zumbis, quiçá de "androides".